De estrela surreal do YouTube a ícone do metal alternativo, Poppy mistura rosa-choque e guitarras distorcidas sem pedir permissão.
Poppy, para quem não conhece é uma cantora norte americana que inicialmente começou sua carreira com músicas pop chiclete e nos últimos anos se tornou um nome de destaque nos gêneros de música pesada e Metal, mas como isso aconteceu?
Para entender essa história precisamos ir nas origens dela, que não exatamente se tratam de música. No início, Poppy chamou atenção com vídeos no YouTube, produzidos em parceria com o diretor e músico Titanic Sinclair. Nessa fase, ela construía uma persona enigmática e quase robótica, com humor bizarro e estética surreal, que rapidamente viralizou. Esses vídeos geraram memes e discussões sobre a cultura digital, preparando o terreno para sua carreira musical.
Os vídeos tinham um tom surreal, muitas vezes desconfortável ou perturbador, misturando humor estranho, crítica à cultura digital e performances quase robóticas. Ela se apresentava como uma figura artificial, repetitiva e enigmática, sempre sorridente, mas com falas e movimentos que lembravam uma espécie de “robô socialmente desajeitado”
Poppy não é apenas uma cantora — ela é um experimento artístico ambulante. Antes de gritar sobre guitarras distorcidas, ela sussurrava frases repetitivas e desconfortantes para a câmera, com um sorriso robótico, em vídeos surreais que viralizaram no YouTube. Produzidos ao lado do diretor Titanic Sinclair, esses clipes a transformaram em um enigma pop e renderam uma base de fãs intrigada pela pergunta: afinal, quem é Poppy?
Antes de fazer riffs pesados ecoarem nos palcos, Poppy já explorava a música com um tom muito mais açucarado. Em 2016, ela lançou seu primeiro EP, Bubblebath, um trabalho de synthpop e electropop que refletia a estética plastificada dos vídeos que a tornaram famosa. Com faixas leves e melódicas como “Lowlife” e “Money”, ela começava a mostrar sua habilidade em criar refrões grudentos — algo que mais tarde usaria para contrastar com guitarras agressivas.
No ano seguinte veio Poppy.Computer (2017), seu primeiro álbum de estúdio, que aprofundou a persona digital e surreal, com letras sobre tecnologia, redes sociais e fama, embaladas por batidas brilhantes e produção impecavelmente pop. Essa fase estabeleceu Poppy como uma artista excêntrica, mas ainda dentro das fronteiras da música eletrônica e do pop experimental.
Em 2018, Poppy lançou Am I a Girl?, um trabalho que ainda respirava pop eletrônico e experimental, mas que já carregava sementes de algo muito mais pesado. Entre as faixas dançantes e sintetizadas, uma chamou atenção pela ruptura radical: “X”, uma música que alterna trechos doces e quase angelicais com explosões de guitarras distorcidas e bateria intensa, como se dois universos colidissem na mesma faixa. Essa estética de “misturar opostos” seria a base da identidade metal que ela abraçaria depois. Outro momento emblemático é “Play Destroy”, parceria com Grimes, que mergulha no industrial e no rock distorcido, deixando claro que Poppy não queria ficar confinada ao pop.
Essa ousadia sonora encontrou seu ápice em 2019 com o lançamento de I Disagree. Ao assinar com a gravadora Sumerian Records, conhecida por seu catálogo de metal e rock alternativo, Poppy se tornou a primeira artista amplamente associada ao pop a entrar oficialmente nesse circuito. O álbum é uma verdadeira colagem de gêneros: heavy metal, nu-metal, industrial, j-pop, baladas acústicas e até música coral se misturam em um resultado que desorienta, mas fascina.
Faixas como “Concrete” ilustram essa abordagem híbrida, abrindo com vocais doces sobre arranjos quase fofos, antes de mergulhar em riffs pesados e mudanças bruscas de andamento. Já “BLOODMONEY” entrega um metal industrial brutal e direto, com críticas afiadas à hipocrisia institucional. Em outras, como “Nothing I Need”, Poppy surpreende desacelerando e explorando uma melancolia suave — um contraste que reforça seu domínio sobre diferentes atmosferas.
O sucesso de I Disagree não apenas consolidou Poppy como uma figura séria dentro do metal alternativo, mas também mostrou que ela estava disposta a quebrar expectativas e provar que a estética colorida e a sonoridade agressiva podiam coexistir de forma inovadora. Ela também foi a primeira artista feminina solo a ser indicada ao Grammy de Melhor performance de Metal com a música "BLOODMONEY".
Após o impacto de I Disagree, Poppy continuou a explorar e expandir seu universo sonoro em Flux (2021). Nesse álbum, a artista experimenta uma abordagem mais madura do metal alternativo e industrial, mantendo a agressividade, mas incorporando atmosferas densas e momentos introspectivos. Faixas como “Her” e “So Mean” mostram Poppy navegando entre riffs pesados e passagens etéreas, equilibrando o peso do metal com a identidade visual e performática que a tornou única. Flux consolidou sua habilidade de transitar entre sons extremos sem perder a coesão estética, reforçando o contraste entre o visual quase “fofo” e a intensidade sonora.
Em 2023, Poppy lançou Zig, seu trabalho mais direto e cru no metal até então. O álbum aposta em riffs agressivos, bateria poderosa e vocais que transitam entre o melódico e o gutural, enquanto mantém a experimentação sonora característica. Aqui, Poppy se aproxima de elementos do punk e do metal moderno, mas sem abrir mão de suas melodias cativantes e de sua persona visual colorida, criando uma assinatura sonora inconfundível. Zig confirma Poppy como uma artista que transcende rótulos, consolidando de vez seu papel como uma figura ousada dentro do metal contemporâneo.
Lançado em 15 de novembro de 2024, Negative Spaces representa o ápice da evolução musical de Poppy, consolidando sua identidade no metal.Com produção de Jordan Fish (ex-Bring Me the Horizon), o álbum mistura metalcore, pop metal, rock alternativo e elementos industriais, criando uma sonoridade densa e emocional.Faixas como “The Cost of Giving Up” e “Surviving on Defiance” exploram temas de luta interna e identidade, enquanto “Crystallized” apresenta influências de synth-pop e “Hey There” flerta com loungecore, mostrando a versatilidade de Poppy
Em abril de 2024, Poppy colaborou com a banda de hardcore Knocked Loose na faixa “Suffocate”, lançada no álbum You Won’t Go Before You’re Supposed To.A música combina riffs pesados com breakdowns intensos e vocais agressivos de ambos os artistas.A colaboração foi tão impactante que recebeu uma indicação ao Grammy de Melhor Performance de Metal na 67ª edição do prêmio, realizada em fevereiro de 2025l.
A parceria também resultou em uma performance ao vivo no programa Jimmy Kimmel Live, onde Poppy e Knocked Loose apresentaram “Suffocate” para uma audiência nacional, um tipo de projeção que normalmente não é dado a artistas de gênero Hardcore.
Com essa trajetória, Poppy transformou a imagem que muitos tinham dela — da garota com vídeos estranhos no YouTube — na de uma artista que combina doçura e agressividade, estética e peso sonoro, provando que é possível ser pop e, ao mesmo tempo, uma força no metal. A “Barbie do Heavy Metal”, um ícone que desafia convenções e redefine o que o gênero pode abraçar continua a avançar na experimentação e qualidade da sua música, conquistando seu lugar como uma das artistas de metal mais interessantes dos últimos anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário